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2 de mai. de 2008

Os espelhos

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O que é um espelho? Não existe a palavra espelho – só espelhos, pois um único é uma infinidade de espelhos. Em algum lugar do mundo deve haver uma mina de espelhos?
Não são preciso muitos para se ter a mina faiscante e sonambúlica: bastam dois, e um reflete o reflexo do que o outro refletiu, num tremor que se transmite em mensagem intensa e insistente ad infinitum, liquidez em que se pode mergulhar a mão fascinada e retira-la escorrendo de reflexos, os reflexos dessa dura água.

O espelho é o espaço mais fundo que existe – É coisa mágica: quem tem um pedaço quebrado já poderia ir com ele meditar no deserto. De onde também voltará no vazio, iluminado e translúcido – e com o mesmo silêncio vibrante de um espelho.

Quem olha um espelho conseguindo ao mesmo tempo isenção de si mesmo, quem consegue vê-lo sem se ver, quem entende que a sua profundidade é ele ser vazio, quem caminha para dentro de seu espaço transparente sem deixar nele o vestígio da própria imagem – então percebeu o seu mistério.”
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Clarice Lispector < “Para não esquecer” (Rio de Janeiro, 1999, p-12-13) Texto modificado e resumido.
obra: José Pedro Croft ( 1957) Portugal
~~~~~~

6 comentários:

Maria Augusta disse...

A cada texto de Clarice Lispector a aprecio mais. Este sobre os espelhos esta magnífico, realmente se observar atentamente um espelho é como mergulhar na própria alma.
Belo post, Ju!
Beijos e um bom fim de semana.

Tom disse...

I smiled at this picture... for some reason it made me feel the wonder of the mirror.

Tom

sonia a. mascaro disse...

Uma cadeira contra a parede já é uma imagem curiosa...

Clarice Lispector é sempre uma inspiração!

Os espelhos refletem nossas múltiplas faces... existem os espelhos generosos, que nos afagam o ego, os crueis ou fiéis que nos confrontam... os que evitamos...

Beijos e um bom domingo!

Ví Leardi disse...

O Espelho



Sou prateado e exato. Não tenho preconceitos.
Tudo o que vejo engulo imediatamente
Do jeito que for, desembaçado de amor ou aversão.
Não sou cruel, apenas verdadeiro -
O olho de um pequeno deus, de quatro cantos.
Na maior parte do tempo medito sobre a parede em frente.
Ela é rosa, pontilhada. Já olhei para ela tanto tempo,
Eu acho que ela é parte do meu coração. Mas ela oscila.
Rostos e escuridão nos separam toda hora.

Agora sou um lago. Uma mulher se dobra sobre mim,
Buscando na minha superfície o que ela realmente é.
Então ela se vira para aquelas mentirosas, as velas ou a lua.
Vejo suas costas, e as reflito fielmente.
Ela me recompensa com lágrimas e um agitar das mãos.
Sou importante para ela. Ela vem e vai.
A cada manhã é o seu rosto que substitui a escuridão.
Em mim ela afogou uma menina,
e em mim uma velha...
Se ergue em direção a ela dia após dia, como um peixe terrível.

Silvia Plath

tradução André Cardoso


Beijos minha querida e bom domingo!

Anônimo disse...

Falar o que? Depois desses comentários femininos sobre o espelho...só.


Bjs

Só- Poesias e outros itens disse...

É verdade Eduardo, os comentários e reflexões foram explêndidos. O que mais dizer... se não olhar e ver.

bjs à todos.

JU Gioli


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